Teorias sobre a dispersão populacional no mundo

Sumário

O Homo sapiens apareceu na África entre 300.000 e 200.000 anos atrás e, posteriormente, se espalhou por outros continentes do Velho Mundo, alcançando a Oceania e a América cerca de 50.000 a 40.000 anos antes do presente.

Este período coincidia com a última grande glaciação do Pleistoceno, conhecida como glaciação de Wisconsin, caracterizada por temperaturas extremamente baixas que possibilitaram a formação de vastas camadas de gelo sobre os continentes. A intensa precipitação de neve, resultado do frio excessivo e da evaporação das águas oceânicas, levou à diminuição do nível do mar, revelando plataformas continentais e pontes de terra submersas atualmente, como a do Estreito de Bering, que conecta a Ásia à América.

A questão sobre como e por que o ser humano se espalhou pelo planeta não tem uma resposta única ou simples. Para elucidar este fenômeno, combinam-se evidências arqueológicas com descobertas paleoantropológicas e, mais recentemente, avanços nas áreas de genética, biologia molecular e computação. Existem, fundamentalmente, três teorias que discutem quantas ondas migratórias ocuparam o continente americano na pré-história e quais rotas foram utilizadas durante essas migrações.

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1ª hipótese asiática: migrações via Estreito de Bering

A hipótese mais aceita pelos arqueólogos para explicar o povoamento inicial das Américas é a teoria das migrações via estreito de Bering. O estreito de Bering emerso forma o continente da Beríngia, porção de terra que os primeiros americanos atravessaram passando por um corredor entre grandes geleiras, que cobriam o norte do continente. Assim teriam seguido rumo ao sul da América do Norte.

Outra possibilidade é que teriam iniciado ocupação através do litoral, por meio da navegação de cabotagem, isto é, um tipo de navegação no qual se viaja junto a costa , sem perdê-la de vista. Os primeiros americanos, nesse caso, teriam dominado a tecnologia de navegação costeira, mas não necessariamente a de navegação em mar aberto. Assim, acredita-se que o deslocamento em direção a América do Sul também teria se dado através de navegação pela costa pacífica, o que explicaria a existência de sítios arqueológicos tão ou mais antigos que na América do Norte.

2ª hipótese asiático-australiana: migrações transpacíficas

Essa hipótese possui menos adeptos e não é tão aceita pela comunidade científica, pois sugere que os primeiros americanos teriam migrado da Melanésia e/ou do continente australiano através de navegação em mar aberto. Tal hipótese foi levantada a partir dos esqueletos humanos mais antigos encontrados no Brasil, Chile, Colômbia e México, cujas datações remontam há 11.000 A.P. Esses esqueletos apresentavam características cranianas mais semelhantes a dos atuais africanos subsaarianos e australianos. Essa morfologia craniana “australo-melanésia” é mais similar à dos primeiros Homo sapiens que surgiram na África do que a morfologia craniana dos povos asiáticos, chamada de morfologia craniana “mongoloide”.

3ª hipótese europeia: migrações transatlânticas

Essa hipótese para o povoamento inicial da América é mais recente e ainda não é muito aceita na comunidade científica. De acordo com esse modelo, os primeiros povoadores da América teriam migrado da Europa para a América do Norte, por volta de 20.000 A.P. O argumento dos defensores dessa hipótese baseia-se na semelhança estilística entre os artefatos líticos encontrados na costa leste dos Estados Unidos – cultura Clóvis -, e os artefatos da indústria lítica muito bem definida estilisticamente da cultura Solutrense, que existiu no norte da Espanha e da França entre 26.000 e 19.000 A.P.*.

Exercícios de Fixação

O Homo sapiens apareceu na África entre 300.000 e 200.000 anos atrás.

A última grande glaciação do Pleistoceno levou à diminuição do nível do mar, revelando plataformas continentais e pontes de terra submersas, como a do Estreito de Bering, que permitiram a migração dos humanos para as Américas.

As três principais hipóteses sobre as migrações para o continente americano são: 1) a hipótese asiática, que sugere migrações via Estreito de Bering; 2) a hipótese asiático-australiana, que propõe migrações transpacíficas; e 3) a hipótese europeia, que sugere migrações transatlânticas.

A hipótese asiático-australiana sugere que os primeiros americanos teriam migrado da Melanésia e/ou do continente australiano através de navegação em mar aberto, com base em características cranianas semelhantes encontradas em esqueletos antigos.

A relação entre a cultura Clóvis e a cultura Solutrense é baseada na semelhança estilística entre os artefatos líticos encontrados na costa leste dos Estados Unidos e os artefatos da cultura Solutrense, que existiu no norte da Espanha e da França.

A DISPERSÃO DOS SERES HUMANOS (HOMO SAPIENS) – Museu da UFRGS

Plano de Aula | 8ºano | Principais rotas de migração ao longo da história | Fluxos migratórios e suas motivações

*Significado de A.P.: A sigla AP (antes do presente) ou BP (before present, antes do presente, em inglês) é uma medida de tempo associada a certas datações em campos científicos como a arqueologia e a geologia, a fim de situar um acontecimento do passado.

A referida forma de datar foi estabelecida em 1954, quando se escolheu ao acaso o dia 1º de janeiro de 1950 como ponto de partida para essa escala de tempo em que se calcula a idade radiocarbônica. Esse ano foi a referência para estabelecer as curvas de calibração nas datações com radiocarbono. Foi tomado como referência o valor do carbono 14 de várias amostras de ácido oxálico dihidratado de 1950.

Esse ano também marcou a publicação das primeiras datas estabelecidas com radiocarbono em dezembro de 1949. O ano de 1950 foi uma escolha recomendável, uma vez que na segunda metade do século XX os testes nucleares causaram desajustes nas curvas de concentração relativa dos isótopos radioativos que havia na atmosfera.

Como em 1950 as amostras possuíam 5% de radiação acima do normal, o valor final para o carbono 14 foi estabelecido em 0,95.

A partir disso, a escala que se estabeleceu nos mostra quantos anos se passaram  desde a morte de um espécime até o ano de 1950 no calendário gregoriano (que é o que usamos). Por exemplo:

1200 AP seria 1950 – 1200 = ano 750.

Para converter um ano datado em AP, basta subtraí-lo do ano de 1950, assim obterá o seu correspondente na datação que usamos, como no exemplo acima.


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